terça-feira, 28 de agosto de 2012

SÉTIMO MANDAMENTO: NÃO FURTAR


O Pe. Antônio Vieira, maior orador sacro da língua portuguesa, escreveu um livro que ficou famoso. Deu-lhe um nome sugestivo (para o seu tempo... e para o nosso): “A arte de furtar”. Esse livro mereceria ser distribuído às carradas: é atualíssimo!

Pois é, o sétimo mandamento manda não praticar essa “arte” de que fala o Pe. Vieira. Do lado positivo, o sétimo mandamento manda praticar a justiça. E a justiça manda que cada um dê o seu a seu dono; agir contra este princípio é roubar ou furtar, é violar o sétimo mandamento de Deus: “Não roubarás” (Êxodo 20,15; Mateus 19,18). Trata-se de tomar ou reter injustamente coisas dos outros ou então prejudicá-los em seus bens. A justiça e a caridade exigem respeito pelos bens terrestres e pelo trabalho humano.

Embora o bem comum preveja que os bens terrenos têm uma destinação universal, não se exclui a posse e o uso privado de uma parte deles. O sétimo mandamento é a forma de nós usarmos e administrarmos corretamente a criação, tendo como ponto de referência Deus e o próximo.

É legítimo perguntar: como compor a destinação universal dos bens criados e a propriedade privada? Boa pergunta. De fato, na criação do mundo, Deus entregou tudo o que ele fez aos cuidados da humanidade. Depois de abençoar o homem e a mulher, disse-lhes: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão” (Gênesis 1,28).

Por motivos de segurança e para defesa da própria vida, aos poucos, a terra foi sendo repartida, surgindo daí a propriedade privada. Ela é legítima: garante a liberdade e a dignidade das pessoas, ajuda no suprimento das necessidades de cada um. A propriedade privada deve levar, porém, a promover a solidariedade entre as pessoas. O egoísmo e o individualismo são contra a vontade de Deus e fontes de males.

É legítimo também perguntar: O que prevalece, a destinação universal dos bens ou a propriedade privada? A destinação universal tem prioridade, pois o bem comum prevalece sobre o bem particular, conforme manda a caridade. A destinação universal dos bens, porém, não é motivo para anular a propriedade privada.

É sempre preciso recordar que o ser humano não é dono da criação, é administrador em nome de Deus. Por isso, mesmo os bens privados, um dia, por motivo de caridade ou de justiça, podem ser úteis aos outros, socorrendo-os em nome do bem comum. Cabe à autoridade política vigiar para que o exercício do direito de propriedade seja regulamentado em função do bem comum.

Convém lembrar também que nós temos deveres para com a criação. Tudo o que foi criado – animais, plantas, seres inanimados – tudo foi criado por Deus e posto à disposição do ser humano. Isso, porém, não significa que nós somos donos da criação e podemos fazer dela o que quisermos. Devemos servir-nos dela na medida de nossas necessidades, respeitando-a o mais possível, pois dela depende não só a vida, mas também a qualidade de vida das outras pessoas.

A grande causa da ecologia, embora muitos não saibam, tem como fundamento exatamente o respeito pelo Criador e pela criação que ele fez para nossa utilidade e para nosso bem. Tudo deve ser usado com moderação, sem egoísmo e instinto de posse, sem abuso de qualquer tipo, como, por exemplo, fazer sofrer os animais, destruir por destruir, etc.

A virtude que regula nosso comportamento para com as pessoas quanto aos bens criados é a virtude da temperança, que modera nossos atos. No que se refere ao respeito pelos bens dos outros, é a virtude da justiça que nos manda dar a cada um o que é seu. Por fim, a solidariedade nos leva a repartir com os mais pobres aquilo que temos, especialmente se se tratar de bens supérfluos. – (Continua nas próximas postagens).

PS O texto acima tem como autor Dom Hilario Moser,sdb, Bispo Emérito de Tubarão, SC e é aqui transcrito com sua autorização.


O SEXTO MANDAMENTO, O HOMEM E A MULHER



“Deus disse: ‘Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança’... Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus os criou. Homem e mulher ele os criou” (Gênesis 1,26-27). Este é o ser humano criado por Deus e esta é a distinção estabelecida por Deus entre os seres humanos: uns são do sexo masculino, outros, do sexo feminino. Deus os fez um para o outro e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos” (Gênesis 1,28).

Da vontade do Criador nasce o matrimônio e a família. A sexualidade está ordenada ao amor conjugal entre o homem e a mulher. Essa união é santificada, entre os batizados, pelo sacramento do Matrimônio. São Paulo fala do matrimônio como símbolo do amor de doação até à morte de Cristo esposo por sua esposa, a Igreja (cf. Efésios 5,32). A castidade vem em ajuda às pessoas casadas para que seu amor seja, o mais possível, semelhante ao amor de Cristo e da Igreja, isto é, amor de doação, não amor interesseiro.

O Catecismo da Igreja Católica ensina: “Os atos com os quais os cônjuges se unem íntima e castamente são honestos e dignos. Quando realizados de maneira verdadeiramente humana, significam e favorecem a mútua doação pela qual os esposos se enriquecem com o coração alegre e agradecido. A sexualidade é fonte de alegria e de prazer... Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimônio: o bem dos cônjuges e a transmissão da vida. Esses dois significados ou valores do casamento não podem ser separados sem alterar a vida espiritual do casal e sem comprometer os bens matrimoniais e o futuro da família. Assim, o amor conjugal entre o homem e a mulher atende à dupla exigência da fidelidade e da fecundidade” (n. 2362-2363).

À fidelidade conjugal (cf. Marcos 10,9) se opõe a infidelidade, ou seja, preterir o esposo ou esposa para unir-se a outro parceiro ou parceira (adultério). Trata-se de pecado grave contra a castidade e também contra a justiça, pois além de violar o sexto mandamento, viola também o compromisso assumido com o outro cônjuge, isto é, de fazer dele o único amor da própria vida. Disse também Jesus: “Todo aquele que olhar para uma mulher com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mateus 5,28).

Uma pergunta: será que castidade tem a ver também com a fecundidade matrimonial? Sim, porque, além de o matrimônio visar à complementação dos esposos, também deve visar à procriação e educação dos filhos, pois foi para isto que Deus o quis. Sejam quais forem as situações dos esposos, o matrimônio sempre precisa estar aberto à transmissão da vida. Esta é a missão dos esposos: serem cooperadores da missão criadora de Deus. De fato, os filhos são um dom de Deus. Por isso, fazer do casamento só uma fonte de satisfação pessoal, excluindo a possibilidade da procriação, é pecar gravemente contra o plano do Criador, o que também facilmente leva a buscar satisfações contrárias à castidade.

Outra ofensa ao matrimônio é o divórcio. Por natureza, o casamento é indissolúvel, isto é, não pode ser anulado, quer porque o amor, em si mesmo, exige ser algo absoluto, quer porque o bem dos filhos o pede. O divórcio é uma falta grave. No Antigo Testamento tolerava-se o divórcio. Jesus, porém, corrigiu essa falha quando disse: “Moisés permitiu despedir a mulher, por causa da dureza do vosso coração. Mas não foi assim desde o princípio (da criação) (Mateus 19,8). E acrescentou: “Foi dito também (aos antigos): ‘Quem despedir sua mulher dê-lhe um atestado de divórcio’. Eu, porém, vos digo: todo aquele que despedir sua mulher – fora o caso de união ilícita – faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher que foi despedida comete adultério” (Mateus 5,31-32). São Paulo ensina aos Coríntios a mesma doutrina (Cf. 1 Coríntios 7,10-11).

Há ainda outras ofensas à dignidade do casamento. Limito-me a citá-las:

a poligamia ou a poliandria, isto é, ter mais de uma mulher ou mais de um homem;

a união livre ou concubinato, quando homem e mulher se recusam a dar forma jurídica e pública à sua união;

as experiências sexuais antes ou fora do casamento;

o incesto, como já acenamos na postagem anterior, que consiste em ter relações íntimas com parentes ou pessoas afins;

a pedofilia, isto é, abusos sexuais cometidos por adultos contra crianças ou adolescentes.

Todas estas atitudes são contrárias à dignidade do casamento e, portanto, são violações do sexto mandamento. De fato, a castidade defende e preserva em sua pureza o amor dos esposos.

PS O texto acima tem como autor Dom Hilario Moser,sdb, Bispo Emérito de Tubarão, SC e é aqui transcrito com sua autorização.


SEXTO MANDAMENTO: NÃO PECAR CONTRA A CASTIDADE

Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus” (Mateus 5, 8).

A castidade é a pureza do amor, é o amor que cuida de si mesmo e não permite que nada o manche. O ser humano conhece as próprias fragilidades e sabe muito bem que a fraqueza da carne é uma das mais expostas a perigos e que seu clamor é dos mais fortes dentro e fora do si. Por isso, a castidade é a virtude que cuida para que o amor, em todas as suas dimensões, se mantenha isento de falhas. Dessa forma, as pessoas podem amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmas, isto é, com o melhor amor de que dispõem.

É fundamental que se compreenda que no sexto mandamento o que está em jogo propriamente é o amor, a pureza do amor, não simplesmente questões sexuais. “Castidade” tem sua origem na palavra “castigar”, que significa corrigir, purificar: seja lá o que for que amamos – os nossos semelhantes, os animais, as coisas inanimadas –, nosso amor deve se casto (“castigado”), isto é, ordenado, limpo e puro, do contrário não amaremos a Deus acima de todas as coisas nem amaremos ao próximo como o amou Jesus, modelo de todo amor.

Precisamente porque a nossa carne é fraca, ela necessita de um apoio especial que nos ajude a caminhar pelo caminho reto: esse apoio é o sexto mandamento. O Antigo Testamento resumia tudo nas palavras: “Não cometerás adultério” (Êxodo 20,14). Jesus, porém, aprofundou seu sentido e o ampliou: “Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, vos digo: todo aquele que olhar para uma mulher com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mateus 5,27-28). Como se vê, pode-se pecar também por maus pensamentos e más intenções.

Todo ser humano é chamado à castidade: é por ela que se constrói e mantém a unidade entre seu ser corporal e espiritual. A sexualidade mostra que o ser humano pertence também ao mundo corporal e biológico. Todavia, a castidade se torna realmente humana quando é integrada serenamente na pessoa, na relação entre pessoas, na doação mútua e definitiva entre um homem e uma mulher. Portanto, a castidade exige a integridade da pessoa e a total capacidade de doação mútua.

Sem dúvida, é um desafio aprender a integrar a sexualidade no conjunto da pessoa humana. O ser humano por inteiro, corpo e alma, é marcado pela sexualidade. Ela afeta de modo especial a afetividade, a capacidade de amar, de procriar, mas também tem a capacidade de criar vínculos e comunhão com os outros. Ocorre uma grave fonte de distúrbios quando alguém não consegue integrar a sexualidade no contexto de toda a pessoa ou a considera somente enquanto genitalidade. Cabe a cada ser humano reconhecer e aceitar a própria identidade sexual e buscar integrá-la serenamente no seu todo.

A sexualidade, sem eliminar a igualdade fundamental entre o homem e a mulher, marca de tal modo as pessoas que ela as torna muito diferentes em muitos aspectos, desde a dimensão física até à dimensão espiritual. Essas diferenças são energias voltadas para a comunhão matrimonial (complementação mútua entre homem e mulher) e familiar (geração e educação dos filhos). Disse o Criador: “Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne” (Gênesis 2,24).

A castidade promove a integridade da pessoa defendendo as forças vitais e de amor da pessoa. Uma pessoa casta se sente unificada, não dispersada em diversas direções em busca de compensações menos adequadas que, aos poucos, pervertem o pensamento, o amor e a ação. Para que a castidade unifique e tonifique o ser humano, são necessárias diversas atitudes:

A aprendizagem do domínio de si, que é a pedagogia para a formação da liberdade humana. Ou a pessoa comanda suas paixões, ou acaba tornando-se sua escrava: a diferença é que, no primeiro caso, ela tem paz; no segundo, infelicidade e remorso. Deixar-se guiar por impulsos torna o ser humano semelhante aos irracionais. A razão e, no caso do cristão, a fé é que devem tomar a dianteira e organizar as energias humanas dentro do coração.

O uso dos meios adequados é indispensável para conservar a castidade. Não se pode ser passivo e esperar que as coisas aconteçam. O conhecimento de si, a prática da ascese (renúncia a tudo o que possa excitar paixões menos convenientes), a obediência aos mandamentos, a prática das virtudes, a Palavra de Deus, a oração, os sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia, a orientação espiritual..., tudo isto ajuda a pessoa a se manter equilibrada.

A prática da temperança, virtude que “tempera”, modera, equilibra os apetites da sensibilidade humana, submetendo-os à razão e à fé, é fundamental para se tornar casto.

Há ainda outros meios para a castidade promover a integração da pessoa, especialmente os seguintes:

O domínio de si é um trabalho a longo prazo, até o fim da vida. Ele nunca pode ser dado como adquirido plenamente. Haverá períodos em que se torna menos necessário, nunca, porém, pode ser descuidado. A castidade tem leis de crescimento, às vezes marcadas por imperfeições e até por faltas graves: assim mesmo, é preciso retomar o trabalho para obter o domínio sobre si próprio.

Embora cada um deva cuidar da própria castidade, há também uma preocupação por criar uma cultura de castidade. Quem não percebe, hoje, quanto a nossa cultura está impregnada de sensualidade, sexualidade, pornografia? Os meios de comunicação social, os formadores de opinião pública, os educadores, todos têm grande responsabilidade nisto e precisam promover maior respeito pelas pessoas, pelo próprio corpo e pelo corpo dos outros. Há muito interesse em cuidar do corpo por vaidade; muito pouco respeito pelo corpo enquanto templo do Espírito Santo.

A castidade é também um dom de Deus, é graça divina, é fruto de um trabalho espiritual. É o Espírito Santo que nos concede imitar a pureza de Cristo. Não nos esqueçamos disto, nós que fomos batizados em Cristo: “Os que pertencem a Jesus Cristo crucificaram a carne com suas paixões e desejos. Se vivemos pelo Espírito, procedamos também de acordo com o Espírito” (Gálatas 24-25).

A caridade é a rainha de todas as virtudes. É ela que faz da castidade uma escola de doação da pessoa porque a torna senhora de si e capaz de generosidade sem limites. É por isso que a castidade floresce facilmente na amizade. Em primeiro lugar, na amizade para com Aquele que nos amou por primeiro e que enviou até nós seu Filho. Depois, na amizade para com este Filho que nos fez seus próprios amigos: “Eu vos chamo amigos” (João 115,15), se entregou por nós e nos tornou participantes de sua condição divina. Por isso, a castidade é promessa de imortalidade. A castidade faz florescer também a amizade com o próximo que representa um grande bem para todos e conduz à comunhão espiritual.

Há diversas formas de viver a castidade. Todos os cristãos são chamados a viver a castidade. Há pessoas que, às vezes, vivem na ilusão de que para os casados esse mandamento não existe. É um grande engano. Como lembramos acima, a castidade é a pureza do amor, seja de um solteiro ou de um casado, porque ela é muito mais do que simples genitalidade. Uma pessoa pode ser virgem, outra celibatária, outra casada, outra viúva: todas devem procurar viver castamente.

Ouve-se facilmente a afirmação de que namorados e noivos é conveniente que se relacionem sexualmente, como se fossem casados, com a finalidade de se conhecerem melhor, de mostrar carinho e amor. É um engano. A união sexual não foi prevista pelo Criador como forma de fazer experiências ou de divertimento: seria instrumentalizar as pessoas. A pessoa cuja experiência não fosse aprovada, não haveria de sentir-se rejeitada e intensamente ofendida? O amor, quando é verdadeiro, é absoluto, não condicionado.

PS O texto acima tem como autor Dom Hilario Moser,sdb, Bispo Emérito de Tubarão, SC e é aqui transcrito com sua autorização.


sábado, 25 de agosto de 2012

O SEXTO MANDAMENTO, COMVITE Á PUREZA DO AMOR



Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?
Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo?
(1 Coríntios 6,15.19)

Deus não nos chamou à impureza, mas à santidade
(1 Tessalonicenses 4,7)


O Sexto Mandamento é um convite à pureza do amor, em particular, em referência ao nosso próprio corpo e ao corpo dos outros. A carne é frágil..., por isso, esse território precisa ser rodeado de defesas, do contrário, os estragos podem ser significativos. A castidade é um dom de Deus, mas conservá-lo ou adquiri-lo depende também do nosso esforço e cuidado, do uso de todos os meios que o Espírito Santo, por Jesus, põe à nossa disposição. São Paulo nos alerta: “Deus não nos chama à impureza, mas à santidade”.
O pecado contra a castidade assume formas diversas, seja por pensamentos e desejos, seja por palavras e obras. O Catecismo da Igreja Católica elenca uma série delas:
Luxúria: o desejo desordenado ou a busca do prazer sexual por si mesmo, fora das finalidades estabelecidas para o sexo pelo Criador, que são a união dos esposos e a procriação. (Há quem confunda “luxúria” com “luxo”: o luxo é ostentação, nada tem a ver com sexo).
Masturbação: a excitação voluntária dos órgãos sexuais por mero prazer. Muitos justificam a masturbação como um fato natural. A Igreja e o senso moral dos fiéis sempre a consideraram um ato gravemente desordenado por si mesmo. Todavia, para julgar da gravidade maior ou menor do ato praticado, será preciso levar em conta a imaturidade afetiva, certos hábitos contraídos, estados de angústia, outros fatores psíquicos ou sociais que podem diminuir a força da responsabilidade.
Fornicação: a união carnal entre um homem e uma mulher não casados. Como as faltas acima, ela é contrária à dignidade das pessoas porque as instrumentaliza e é sempre um abuso da sexualidade humana que, como vimos, tem objetivos específicos ditados pelo Criador.
Pornografia: exibe a outros os atos sexuais, isolados de sua finalidade, por puro prazer. Desnatura o ato conjugal, ridiculariza a doação íntima dos esposos, ofende gravemente a dignidade humana. Todas as pessoas envolvidas no processo pornográfico (atores, comerciantes, público) não estão isentas de culpa e de escândalo; sem falar dos que a incentivam e, com ela, acumulam fortunas explorando a fraqueza humana. Em particular, a pornografia escandaliza enormemente a juventude, encaminha para o vício e cria um mundo ilusório, artificial.
Prostituição: gravemente contrária à própria pessoa que se prostitui, reduzida a puro objeto de prazer. A prostituição é um flagelo social e envolve todas as categorias de pessoas de todas as idades. É sempre falta grave; todavia, sua responsabilidade pode ser atenuada pela pressão da miséria, da chantagem e de outros fatores pessoais ou sociais.
Estupro: usar da força para praticar um ato sexual com alguém. É contra a justiça e a caridade, provoca danos gravíssimos, lesa o direito ao respeito, à liberdade, à integridade física e moral da pessoa ofendida. Na mesma linha do estupro deve-se apontar o incesto e a pedofilia (Cf. Catecismo da Igreja Católica n. 2351-2356).
O que dizer da homossexualidade? “A homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual, exclusiva ou predominante, por pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade se reveste de formas muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas. Sua gênese psíquica continua amplamente inexplicada. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a tradição sempre declarou que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados. São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados”.
“Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes de autodomínio, educadoras da liberdade interior, às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente, da perfeição cristã” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2357-2359).
Em conclusão: a castidade não é um “bicho de sete cabeças”, impossível de se praticar. Apesar de vivermos num clima saturado de erotismo, estimulado particularmente por certos meios de comunicação social, por certas “ondas” do momento... há muitas pessoas que se conservam puras e santas, na alma e no corpo. E há sempre o caminho do retorno, lembrando o que diz São João: “Se o nosso coração nos acusa, Deus é maior do que o nosso coração e Ele conhece tudo” (1 João 3, 20).
O discípulo/a de Jesus, apesar da sua fragilidade, auxiliado pelo Espírito Santo, pela Palavra de Deus, pela oração, pelos sacramentos (especialmente da Reconciliação e da Eucaristia), se esforça para aprender a amar de forma pura, a si mesmo, aos outros e a todas as criaturas. Na perfeição do amor é que consiste a santidade. Neste sentido, o Sexto Mandamento vem em auxílio da nossa fraqueza. – (Continua na próxima postagem).

PS O texto acima tem como autor Dom Hilario Moser,sdb, Bispo Emérito de Tubarão, SC e é aqui transcrito com sua autorização.


quarta-feira, 8 de agosto de 2012



O QUINTO MANDAMENTO, A PAZ... E A GUERRA



Também a paz faz parte do quinto mandamento. É contra o quinto mandamento tudo o que atenta gravemente contra a paz. Especificamente:

· A cólera, que é desejo de vingança: “Todo aquele que tratar seu irmão com raiva será acusado perante o tribunal” (Mateus 5,22). Dependendo do que a cólera pretende e das atitudes que ela provoca contra alguém, pode chegar a ser falta grave contra a caridade.

· O ódio é também contrário à caridade, sobretudo quando se deseja um mal grave ao próximo. “Ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Eu, porém, vos digo: ‘Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem! Assim vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus’” (Mateus 5,43-45).

· O desrespeito da pessoa humana também é contra a paz. Paz não é só ausência de guerra e equilíbrio de forças. Sem a paz, violam-se todos os direitos dos seres humanos, da sociedade e da humanidade.

A paz do cristão deve ser fruto da paz de Cristo, que Ele conquistou derramando seu sangue. “Ele é a nossa paz” (Efésios 2,14). E declarou “felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5,9). A paz de Cristo é bem diversa da “paz” do mundo. Ele disse: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou” (João 14,27).

Além da paz, existe também a guerra. Infelizmente! O quinto mandamento defende a vida e condena tudo o que destrói a vida humana. Por isso, a guerra é fonte de males e injustiças humanas; ignora completamente o Deus de amor e investe contra suas criaturas, feitas para o amor.

Note-se que:

· Se houver perigo de guerra e tiverem sido esgotados todos os recursos para evitá-la, é lícita a legítima defesa pela força militar. Todavia, para agir moralmente, muitas e graves são as condições para que se possa falar de autêntica legítima defesa, coisa que cabe aos poderes públicos decidir.

· Durante os conflitos armados não fica em absoluto suspensa a norma moral, como pensam os que, na guerra, julgam que tudo é lícito. A obediência cega não é suficiente para legitimar o extermínio de um povo, de uma nação ou de uma minoria étnica, o genocídio.

Deve-se fazer de tudo para evitar a guerra. Entretanto, favorece a guerra também por uma série de tomadas de posição que, em última análise, aos poucos, a preparam. Sobretudo as seguintes:

· A acumulação de armas, a corrida aos armamentos, o superarmamento, armas científicas, sobretudo atômicas, biológicas ou químicas.

· A produção e o comércio de armas, pelo perigo que representam para o bem comum, devem ser estritamente regulamentadas pelos governos.

· As injustiças, as desigualdades excessivas de ordem econômica ou social, a inveja, o orgulho, e de modo especial os grandes interesses econômicos que frequentemente se escondem por detrás de falsos objetivos apresentados ao mundo como promoção do bem social.

Conclusão: a guerra provoca a ruína de muitas consciências, e são sem número as ofensas graves a Deus e aos seres humanos. Ela está sempre à espreita do mundo, mas a caridade precisa vencer essa tentação, até que se cumpra a palavra do Senhor: chegará o tempo em que os homens, em vez de guerrear, irão “fundir as lanças, para delas fazer foices. Nenhuma nação pegará em armas contra a outra e nunca mais se treinarão para a guerra” (Isaías 2,4). Que assim seja!

PS O texto acima tem como autor Dom Hilario Moser,sdb, Bispo Emérito de Tubarão, SC e é aqui transcrito com sua autorização.




O QUINTO MANDAMENTO, OS ESCÂNDALOS, A SAÚDE...




O quinto mandamento se opõe também aos escândalos. Trata-se de uma falta de respeito à alma das pessoas. O escândalo consiste em tentar o próximo, opor-se à retidão da pessoa, arrastar o irmão à morte espiritual. O escândalo é pecado grave se, por ação ou omissão, conduzir deliberadamente alguém a uma falta grave.

Como qualquer falta, também o escândalo tem suas graduações. É tanto mais desastroso quanto maior for a autoridade de quem o pratica ou a fraqueza de alma dos que são envolvidos neles. “Quem escandalizar um só destes pequenos que creem em mim, melhor seria que lhe amarrassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem no fundo do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos. É inevitável, sem dúvida, que eles ocorram, mas ai daquele que os provoca” (Mateus 18,6-7).

várias maneiras de escandalizar. O escândalo é mais grave quando é dado por pessoas que, por natureza ou função, devem ensinar e educar os outros. O escândalo pode ser provocado também por leis, instituições, pela moda, pela opinião... Tudo o que leva à degradação dos costumes, corrompe a vida religiosa das pessoas, prejudica o ambiente social de tal modo que torna difícil cumprir os Dez Mandamentos e viver segundo o Evangelho, tudo isso provoca escândalo.

Igualmente provocam escândalo chefes de empresas que em seus regulamentos incitam à fraude, professores que exasperam os alunos, os manipuladores da opinião pública. Todas essas atitudes são ocasiões de pecado para os mais fracos e, portanto, são ocasiões de escândalo.

O quinto Mandamento engloba também o cuidado pela saúde. Sim, porque a vida e a saúde são dons de Deus a fim de podermos cumprir nossa missão neste mundo. Precisamos cuidar delas equilibradamente, tendo em mente também as necessidades dos outros e o bem comum. Também faz parte da saúde o cuidado com o corpo, não, porém, de forma exagerada a ponto de fazer dele um ídolo.

Em questões de saúde e de cuidado com o corpo, é preciso evitar toda espécie de excesso, na comida, na bebida e em tudo o mais. Cabe à virtude da temperança manter sob controle tudo o que fazemos. Não falemos do uso da droga que causa gravíssimos danos à saúde e leva outras pessoas ao mal, com consequências enormes para as famílias, a sociedade e a própria pessoa que as consome. Quem as comercializa é responsável por gravíssimos danos morais.

A pesquisa científica também pode resultar em dano para a pessoa. De fato, trata-se de uma faca de dois gumes: experiências científicas, médicas ou psicológicas podem prestar enorme ajuda à saúde das pessoas. Lembre-se, porém, que experiências em seres humanos sempre exigem o consentimento do interessado ou de seus representantes legais. Por outro lado, elas não podem legitimar atos em si mesmos contrários à dignidade das pessoas. Nem o consentimento da pessoa envolvida no caso legitima tais tomadas de posição.

Essas experiências não são lícitas, se puserem em perigo a vida, a integridade física e psíquica da pessoa ou as levarem a correr riscos desproporcionais ou evitáveis por outras intervenções.

Quanto ao transplante de órgãos, é moralmente legítimo na medida em que os riscos a que se submete o doador não representem para ele grave prejuízo e, ao mesmo tempo, que haja probabilidade concreta de bom êxito em favor do destinatário. Sempre, porém, se exige o consentimento do doador ou de seus representantes legais. Doar órgãos após a morte é louvável. Mutilar a si mesmo é sempre moralmente inadmissível. – (Continua na próxima postagem).

PS O texto acima tem como autor Dom Hilario Moser,sdb, Bispo Emérito de Tubarão, SC e é aqui transcrito com sua autorização.


O QUINTO MANDAMENTO, ABORTO, EUTANÁSIA, SUICÍDIO...


O aborto é um caso de homicídio como os outros. Estamos cansados de ouvir por parte da Igreja, em particular dos últimos papas, que a vida é sagrada desde sua concepção até seu término natural. Isso exclui explicitamente o aborto. Se o feto não fosse um ser humano, teria Deus dito a Jeremias: “Antes de saíres do ventre, eu te consagrei, e fiz de ti profeta para as nações” (Jeremias 1,5)?

Desde o momento da concepção, o ser humano é pessoa e tem direito de ser respeitado como pessoa. Hoje, muitos defendem o aborto, mas a Igreja, fiel à Palavra de Deus, insiste, como já fazia no século I, conforme podemos ler num dos escritos mais antigos do Cristianismo, a Didaqué 2,2: “Não matarás o embrião por aborto e não farás perecer o recém-nascido”.

Há pessoas que cometem aborto tranquilamente, sem falarmos dos meios de comunicação social e dos governos que com frequência o incentivam. Não se pense que é a sociedade civil, a autoridade política, o Estado ou os governos que concedem os direitos às pessoas. Alguns direitos são inalienáveis e ninguém os concede a ninguém porque são inerentes à pessoa em razão do ato criador do qual ela se origina. Entre tais direitos está o direito à vida e à integridade física do ser humano, desde a concepção até sua morte natural.

Colaborar formalmente para um aborto também é ato grave. E a Igreja, não por falta de misericórdia – que ela nunca recusa a quem se arrepende sinceramente, mesmo no caso dos maiores crimes – mas para fazer compreender a gravidade do pecado cometido, estabelece que “quem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre automaticamente em excomunhão” (Código de Direito Canônico c. 1398). Dessa excomunhão, só o bispo ou quem ele delegar é que pode absolver. Evidentemente, para alguém incorrer em excomunhão, é preciso ter consciência de que a Igreja pune o pecado de aborto com essa pena. Seja como for, o pecado de aborto é sempre gravíssimo.

As intervenções clínicas no que se refere à vida nascitura, enquanto se destinarem a preservar a vida, a curá-la, a defender sua integridade, são lícitas e até recomendáveis, como, por exemplo, o diagnóstico pré-natal. Ao contrário, tudo o que pretende eliminar a vida é imoral e, portanto, proibido pelo quinto mandamento.

Nesse sentido, “é imoral produzir embriões humanos destinados a serem explorados como material biológico disponível. Certas tentativas de intervenções sobre o patrimônio cromossômico ou genético não são terapêuticas, mas tendem à produção de seres humanos selecionados segundo o sexo ou outras qualidades preestabelecidas. Essas manipulações são contrárias à dignidade pessoal do ser humano, à sua integridade e à sua identidade única, não reiterável” (Catecismo da Igreja Católica n. 2274-2275).

E o que dizer da eutanásia? “Eutanásia” é palavra de origem grega que significa “morte serena”, isto é, sem sofrimento. Consiste em apressar a morte por motivos de piedade quando a pessoa está sofrendo muito ou não há esperanças de recuperação. Os defensores da eutanásia alegam também outros motivos para apressar a morte de alguém: por exemplo, se nasceu defeituoso, com doença incurável, se está idoso...

Seja qual fora o pretexto usado para aplicar a eutanásia, é sempre supressão da vida e, por isso, homicídio. Há casos em que o próprio paciente a solicita ou a aplica a si mesmo: neste caso trata-se de autêntico suicídio. É um pecado grave contra Deus autor da vida.

No caso de dever manter um paciente ligado a aparelhos caríssimos, há duas situações a considerar:

não há obrigação moral de manter procedimentos médicos caríssimos, perigosos, extraordinários ou desproporcionais aos resultados. A intenção, porém, não pode ser a de acelerar a morte, embora ela venha certamente. Assim mesmo, quem deve decidir é o paciente, se puder; caso contrário, seus responsáveis;

mesmo que a morte seja iminente, os cuidados comuns devidos a um doente nessa situação não podem ser interrompidos. Admite-se o uso de analgésicos para suavizar o sofrimento, mesmo que com isso os dias sejam abreviados, contanto que não sejam ministrados com o objetivo específico de apressar a morte.

Finalmente, a respeito do suicídio devemos dizer que não somos donos da nossa vida, ela nos foi dada por Deus, ela pertence a Deus. Cabe a ele dispor dela de uma forma ou de outra. Por isso, o suicídio é grave ofensa a Deus. Além disso, contradiz a própria inclinação natural do ser humano, que é sempre levado a conservar, defender e perpetuar a própria vida. O suicídio nega totalmente o amor a si mesmo; ofende o amor ao próximo porque rompe todos os vínculos de solidariedade com a família, a comunidade, a nação a humanidade. Cooperar com o suicídio de outrem também é falta moral.

Muitas vezes, porém, o suicídio é resultado de distúrbios psíquicos graves, angústia ou medo irreprimível ou sofrimento, etc. Isso, evidentemente, diminui a responsabilidade do suicida. Quanto à salvação do suicida, não nos cabe desesperar, porque Deus tem seus caminhos para ir ao encontro dessas pessoas. A Igreja reza pelas pessoas que se suicidam para que Deus, que é Pai de todos, as acolha em sua misericórdia. – (Continua nas próximas postagens).

PS O texto acima tem como autor Dom Hilario Moser,sdb, Bispo Emérito de Tubarão, SC e é aqui transcrito com sua autorização.




O QUARTO MANDAMENTO, AS AUTORIDADES CIVIS E OS CIDADÃOS


O quarto Mandamento engloba também os deveres das autoridades civis para com os cidadãos. Elas devem exercer a autoridade como um serviço e nada mais: “Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve” (Mateus 20,26). A autoridade tem sua origem em Deus, pois ela é necessária para o bem da humanidade. São Paulo recomendava: “Todos se submetam à autoridade dos que exercem o poder, pois não existe autoridade que não venha de Deus, e as autoridades que existem foram estabelecidas por Deus. Portanto, quem se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus” (Romanos 13,1). Este é o pensamento de Deus sobre a autoridade e sobre o uso que ela pode e deve fazer de seus poderes.

O Catecismo da Igreja Católica ensina: “Os poderes políticos devem respeitar os direitos fundamentais da pessoa humana. Exercerão humanamente a justiça no respeito pelo direito de cada um, principalmente das famílias e dos deserdados. Os direitos políticos ligados à cidadania podem e devem ser concedidos segundo as exigências do bem comum. Não podem ser suspensos pelos poderes públicos sem motivo legítimo e proporcionado. O exercício dos direitos políticos está destinado ao bem comum da nação e da comunidade humana” (n. 2237).

Também os cidadãos têm deveres para com as autoridades. Devem respeitar as autoridades. São Pedro ensina: “Subordinais-vos a toda autoridade humana por amor ao Senhor, quer ao rei, como soberano, quer aos governadores, que por ordem eles castigam os malfeitores e premiam os que fazem o bem. Pois a vontade de Deus é precisamente esta: que fazendo o bem, caleis a ignorância dos insensatos. Conduzi-vos como pessoas livres, mas sem usar a liberdade como pretexto para o mal. Pelo contrário, sede servos de Deus. Honrai a todos: aos irmãos, amai; a Deus, tende temor; ao rei, honrai” (1Pedro 2,13-17).

O cidadão deve“colaborar com os poderes civis para o bem da sociedade, num espírito de verdade, justiça solidariedade e liberdade. O amor e o serviço à pátria derivam do dever de gratidão e da ordem da caridade. A submissão às autoridades legítimas e o serviço do bem comum exigem que os cidadãos cumpram seu papel na vida da comunidade política” (Catecismo da Igreja Católica n. 2239). Tudo isto inclui, por exemplo, o pagamento dos impostos, o exercício do direito de voto, o serviço militar para a defesa do país. “Dai a cada um o que lhe é devido: seja imposto, seja taxa, ou também, o temor e o respeito” (Romanos 13,7). São Paulo ainda recomenda a Timóteo que se reze por todos, inclusive, “pelos reis e pelas autoridades em geral, para que possamos levar uma vida calma e tranquila, em toda piedade e dignidade”(1Timóteo 2,2).

É evidente que, às vezes, pode-se chamar atenção das autoridades. Pode-se e, às vezes, è indispensável. O respeito à autoridade não impede que os cidadãos manifestem com clareza e coragem tudo quanto é prejudicial à dignidade das pessoas e ao bem da comunidade. Sabemos que a sociedade caminha sempre mais para formas de maior ou menor violência na manifestação de suas reivindicações aos governantes. Por quê? Porque ela sabe que também é frequente as autoridades agirem no próprio interesse ou por corrupção, às avessas do espírito de serviço que deveria caracterizá-las. Aqui estamos longe do quarto mandamento e do Evangelho, infelizmente. E isto elimina a serenidade e a paz da sociedade.

Será que é possível também recusar obediência às autoridades? “O cidadão é obrigado em consciência a não seguir as prescrições das autoridades civis quando estes preceitos são contrários às exigências da ordem moral, aos direitos fundamentais das pessoas ou aos ensinamentos do Evangelho. A recusa de obediência às autoridades civis, quando suas exigências são contrárias às da reta consciência, funda-se na distinção entre o serviço a Deus e o serviço à comunidade política” (Catecismo da Igreja Católica n. 2242). De fato, Jesus disse: “Devolvei a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus” (Mateus 22,21). No caso de as autoridades oprimirem os cidadãos, estes devem acatar o que faz parte do bem comum, mas podem defender seus direitos e os dos outros contra quem está abusando do poder, sempre dentro dos limites da razão e do Evangelho. Os apóstolos não tiveram medo de dizer aos sumos sacerdotes que os interrogavam: “É preciso obedecer a Deus antes que aos homens” (Atos dos Apóstolos 5,29).

Em determinadas circunstâncias, os cidadãos também podem fazer resistência às autoridades, como nos casos de haver opressão do poder político. Quanto ao uso de armas, porém, só se recorrerá a elas com as seguintes condições, conforme as orientações do Catecismo da Igreja Católica n. 2243: se ocorrerem violações certas, graves e prolongadas dos direitos fundamentais; após terem sido esgotados todos os outros recursos; havendo esperança fundada de êxito; finalmente, se for impossível prever razoavelmente soluções melhores.

Finalmente, é o caso de perguntar: o que dizer das obrigações para com estrangeiros, que não são cidadãos? As nações que tiverem condições de acolher os estrangeiros em busca de condições melhores de vida devem acolhê-los. Por sua vez, o migrante deve respeitar o país que o acolher, obedecer à suas leis e contribuir financeiramente com ele, na medida do possível. No dia do julgamento seremos avaliados também pela sensibilidade que tivermos tido para com os estrangeiros, nos quais vive o próprio Jesus, conforme ele disse: “Eu era forasteiro, e me recebestes em casa” (Mateus 25,35). Essas palavras se referem tanto aos indivíduos quanto às sociedades, em particular aos governantes. Infelizmente, aumenta no mundo a discriminação contra os estrangeiros...

PS O texto acima tem como autor Dom Hilario Moser,sdb, Bispo Emérito de Tubarão, SC e é aqui transcrito com sua autorização.